A difícil transição do presencial para o EAD

Artigos pedagógicos
Leitura em
5
min
Publicado em
15
/
05/2020
Autor
Fabrício Garcia
CEO na Plataforma Qstione
Fabrício Garcia é um professor da área de saúde apaixonado pelas novas tecnologias educacionais. Seu foco principal de trabalho está em ajudar instituições de ensino e professores a implementar novas tecnologias que aumentem a eficiência educacional, justamente por acreditar que a tecnologia é o caminho mais simples para democratizar a educação de qualidade no Brasil.
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Levando em consideração a difícil transição do presencial para o EAD, há alguns meses, se alguém me perguntasse: quando teremos uma cultura educacional madura em termos de ensino a distância no Brasil? Eu diria: talvez, em 3 ou 4 anos. Atualmente, se alguém me fizer a mesma pergunta, eu responderia: em 6 meses ou menos. A pandemia causada pela Covid-19, literalmente, impôs uma nova cultura educacional ao Brasil. Esse fenômeno, acelerou um processo de adaptação e mudança cultural que vinha acontecendo lentamente em terras tupiniquins. E, infelizmente, foi preciso uma tragédia dessa magnitude para que isso acontecesse.          

Nos últimos 60 dias de 2020, todos os níveis educacionais foram afetados e instituições do ensino fundamental à pós-graduação tiveram que se adaptar a nova realidade imposta pelo isolamento social. Historicamente, arrisco dizer que nunca houve uma mudança tão radical e repentina no sistema educacional brasileiro. Em poucas semanas, todas as instituições de ensino brasileiras precisaram iniciar uma difícil transição do presencial para o EAD.

Nesse meio tempo, ainda conseguiram até se aproveitar de uma nomenclatura não tradicional, adotada para fugir da fama negativa atrelada ao termo EAD. O mercado educacional brasileiro e o próprio Conselho Nacional de Educação passaram a utilizar a terminologia “ensino remoto”, com o intuito de se diferenciar das práticas adotadas pelo “velho” ensino a distância. Uma tentativa vã para se dissociar do termo que, nos últimos anos, perdeu credibilidade na sociedade.

Vale ressaltar que, não se sabe ao certo quais foram os reais motivos para que o EAD tenha adquirido uma fama tão ruim no Brasil. O que posso afirmar, contudo, é que essa “aura” de que instituições de ensino a distância são sinônimos de baixa qualidade educacional, surgiu em um passado recente. Talvez, esse seja um bom tema para os próximos artigos.

A difícil transição do físico para o digital

A difícil transição do presencial para o EAD vai muito além da mudança dos procedimentos pedagógicos e implementação de novas tecnologias. Trata-se da implantação de uma nova cultura educacional na qual as instituições de ensino, estudantes e/ou responsáveis (no caso do ensino infantil) passam a ser oficialmente co-responsáveis pelos resultados educacionais.

No EAD, os papéis dos estudantes e dos professores estão melhor definidos e os resultados são registrados com maior eficiência do que no ensino presencial. Nesse ponto, as novas tecnologias permitiram a ampliação do registro e a gestão das diversas atividades educacionais.

Entretanto, algumas instituições de ensino, na tentativa de simplificar a transição do presencial para o EAD, cometem alguns erros que, muitas vezes, são repetitivos. Um erro muito comum, por exemplo, é tentar replicar as mesmas práticas educacionais do ensino presencial no EAD, sem a devida personalização.

Neste artigo, portanto, vamos tratar de algumas práticas e dicas para migrar de forma estratégica e com qualidade do ambiente físico para o ambiente virtual de aprendizagem.

O que fazer e não fazer na transição?

O EAD tem seu próprio DNA e não adianta fazer “gambiarras” ou tentar mudar a sua essência pedagógica. É fundamental compreender que cada ferramenta utilizada no EAD tem um método a ser seguido e boas práticas pedagógicas a serem respeitadas.

Geralmente, as aulas presenciais, por exemplo, são mais longas (mais de 30 minutos de duração), com foco no professor que se posiciona de pé em local de destaque, abusando de oralidade e com pouca interatividade. Já as aulas on-line devem ser mais curtas, com o enfoque no objetivo de aprendizagem e com mais interatividade entre os participantes. Obviamente, o modelo presencial não funciona bem em plataformas EAD, mas algumas instituições insistem nessa transposição de modelos.

Algo similar ocorre com o processo de avaliação. No EAD, a avaliação de estudantes é parte integrante do próprio processo de ensino. Isto é, geralmente, em cada atividade de ensino é comum a aplicação de algum mecanismo de avaliação, pois tal registro é necessário para verificação das atividades e assimilação do conteúdo. Isso comumente não ocorre no ensino presencial.

Outro ponto interessante é a diversidade de ferramentas educacionais e tecnológicas disponíveis para o EAD. Isso pode ajudar ou atrapalhar, já que a aplicação de cada ferramenta requer capacitação de professores, tutores e outros profissionais envolvidos no EAD.

Em suma, do ponto de vista pedagógico e de infraestrutura, a transição para o EAD requer muito planejamento, capacitação de professores e uma equipe focada na gestão dos processos educacionais a distância. O gestores educacionais devem investir forte em capital humano para fazer essa transição com segurança.

E quais são os maiores desafios?

A mudança de cultura educacional é o maior desafio de todos para o sucesso do EAD. Isso quer dizer que a maior mudança deve ocorrer na mente dos professores e dos estudantes que participam do processo de ensino. O autoaprendizado e a busca ativa pelo conhecimento devem ser estimulados nos estudantes. Por isso, o professor precisa adotar uma postura instigadora e capaz de atiçá-los para aquisição de habilidades, motivando-os constantemente.

No ensino presencial, há uma clara tendência à responsabilização unilateral dos resultados educacionais. Assim, quando estes são positivos, o estudante é tido como o principal responsável pelo seu sucesso. Mas, quando não são bons, o próprio estudante tenta transferir a responsabilidade para os professores e/ou instituições de ensino. No EAD, contudo, a corresponsabilidade é uma característica intrínseca do processo de ensino. O estudante e a instituição têm responsabilidades muito bem definidas dentro de um ambiente controlado (leia nosso artigo: COVID-19: Como oferecer serviços educacionais de qualidade em uma pandemia?).

Adicionalmente, é preciso compreender que no ensino de adultos, a família não precisa participar ativamente do processo de aprendizagem, principalmente na modalidade EAD. Em contrapartida, na educação infantil, os pais ou responsáveis entram na equação de responsabilidades pelos resultados educacionais.  Isso acontece, pois assumem a fiscalização das crianças no ambiente residencial e estabelecem rotinas adaptando um ambiente propício para o estudo domiciliar.

Pais assumem a fiscalização das crianças no ambiente residencial.
Pais assumem a fiscalização das crianças no ambiente residencial.

E agora? Será que estaremos prontos para a migração?

Diante do exposto, a instituição de ensino deve pactuar as responsabilidades deixando claro o papel de todos os atores do processo educacional, fornecendo a infraestrutura necessária para o acompanhamento do processo de ensino e registrando os resultados educacionais.

Por tudo que foi dito neste artigo, podemos inferir que o papel da instituição de ensino na transição para o EAD está intimamente vinculado à gestão educacional, à pactuação de responsabilidades e à transparência na avaliação dos resultados . São grandes desafios! Mas a equipe Qstione está do seu lado para, juntos, construirmos um ensino virtual de qualidade.

Até o próximo artigo!

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