Vale a pena produzir os próprios materiais didáticos?

Ensino Básico
Leitura em
5
min
Publicado em
22
/
05/2020
Autor
Fabrício Garcia
CEO na Plataforma Qstione
Fabrício Garcia é um professor da área de saúde apaixonado pelas novas tecnologias educacionais. Seu foco principal de trabalho está em ajudar instituições de ensino e professores a implementar novas tecnologias que aumentem a eficiência educacional, justamente por acreditar que a tecnologia é o caminho mais simples para democratizar a educação de qualidade no Brasil.
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Os gargalos da produção de conteúdo educacional, no Brasil, sempre fizeram as instituições de ensino se questionarem: vale a pena produzir os próprios materiais didáticos? Pensando, então, na complexidade desse trabalho e nos custos operacionais, a maioria das escolas e faculdades optam por adquiri-los prontos. Para isso, geralmente, fecham contratos com os sistemas de ensino ou se associam aos grandes players do mercado de educação a distância (EAD), a fim de obter conteúdos digitais e livros didáticos para os seus cursos.

Apesar de, inicialmente, parecer uma boa solução, infelizmente, posso afirmar que grande parte dos conteúdos ofertados pelos principais sistemas de ensino e pelas empresas brasileiras especialistas em produção de conteúdo EAD não atendem aos padrões básicos de qualidade pedagógica. Entretanto, em um quesito dou o braço a torcer: pelo menos possuem belos projetos gráficos e de design.

O que explica a baixa qualidade dos materiais pedagógicos ofertados pelos sistemas de ensino e empresas de EAD?

Para responder tal pergunta é preciso ressaltar que qualquer material didático-pedagógico deve ser elaborado com base em objetivos de aprendizagem predeterminados. Eis o cerne do problema. Um material didático não é composto simplesmente por conteúdos. Trata-se de um instrumento projetado para auxiliar os professores a atingirem objetivos instrucionais específicos, a partir da aplicação de determinados métodos de ensino. Em outras palavras, o material deve seguir uma estrutura lógica, criando um sinergismo entre o trabalho do professor e o método de ensino aplicado aos estudantes.

Essa complexidade torna difícil a aquisição de materiais didáticos pré-prontos, já que eles precisariam se encaixar perfeitamente na proposta pedagógica de cada escola ou faculdade. Além disso, a matriz curricular do material teria de ser a mesma da instituição de ensino para não gerar um descompasso entre os objetivos de aprendizagem e o objeto de conhecimento. Nesse contexto, o ideal seria que cada escola tivesse uma curadoria para avaliar todos os materiais didáticos adquiridos. Mas isso também tem um custo elevado e talvez gere um outro problema: descobrir que não há material didático adequado à realidade pedagógica da instituição em questão.

Parece drástico, mas é isso mesmo! Ao avaliar os materiais didáticos disponíveis no mercado, a sua escola ou faculdade pode descobrir que nenhum deles se enquadra no seu perfil pedagógico. Eu diria, inclusive, que há uma grande probabilidade disso acontecer, na maior parte dos casos. Arrisco-me, ainda, a dizer, após analisar diversos materiais didáticos disponíveis no mercado brasileiro, que alguns sistemas de ensino produzem materiais didáticos completamente desconectados de quaisquer métodos de ensino ou matriz curricular coerentes.

Então, a melhor solução é produzir o próprio material didático?

Não posso dar uma fórmula mágica para resolver esse problema, mas posso apontar alguns caminhos. Na minha opinião, as instituições precisam investir forte na estrutura pedagógica para que os objetivos instrucionais de cada curso estejam claramente definidos e estejam em constante evolução, bem como os métodos de ensino adotados pelos professores. Assim, a instituição cria o seu próprio DNA educacional, tornando a escolha dos materiais didáticos mais fácil e objetiva.

Isso faz com que a produção de conteúdo se torne mais simples. E a curadoria para aquisição de materiais didáticos se transforma em um processo de escolha muito mais objetivo. Essa objetividade permite que a avaliação de estudantes gere indicadores de qualidade do material didático utilizado. Assim, também aumentamos a eficiência pedagógica da instituição de ensino, além de transformar a escolha dos materiais didáticos em algo objetivo e mensurável. (Você pode ler mais sobre como reduzir as lacunas do aprendizado nesse post do Blog Qstione).

E o melhor, dessa forma, tanto a produção de conteúdo quanto a curadoria para aquisição de materiais se tornam economicamente e logisticamente mais viáveis. Com isso, a instituição de ensino pode adquirir e/ou produzir os seus próprios materiais, de acordo com suas necessidades pedagógicas e limitações financeiras. Essa questão passa a ser decidida no âmbito da gestão administrativa e pedagógica com racionalidade e levando em consideração os interesses da instituição de ensino.

Vale a pena adquirir pacotes fechados com sistemas de ensino ou empresas EAD?

No caso do ensino infantil, muitas escolas optam por adquirir pacotes de conteúdo fazendo parcerias com os famosos sistemas de ensino. Sabe-se que, em alguns contratos, há ganhos financeiros para ambas as partes (escolas e sistemas de ensino). Neste caso, em uma análise superficial de curto prazo, sem comentar a questão ética desses acordos, tais ganhos parecem interessantes se pensarmos pelo lado das escolas. Mas, será que vale a pena para o aluno?

Materiais didáticos para o ensino infantil.
Materiais didáticos para o ensino infantil.

Os sistemas de ensino são empresas especializadas em produção de conteúdos “pré-fabricados”, isto é, elas substituíram os tradicionais livros por materiais didáticos formatados sob medida e atrelados a métodos de ensino para escolas. Essas empresas vêm crescendo, nos últimos anos, e praticamente dominaram o mercado editorial educacional brasileiro. Graças a um sistema de vendas agressivo, elas prometem um material de qualidade, isentando a escola do trabalho de produção própria. Atualmente, 4 ou 5 empresas dominam uma grande fatia do mercado educacional brasileiro. E milhões de estudantes utilizam esses materiais para estudar.

De uma forma geral, esses materiais apresentam sérios problemas de ordem didático-pedagógica. Porém, não é foco deste artigo falar desses problemas. Assim, quem sabe nos próximos artigos…

Nosso cerne é discutir que à escola, ao adotar tais materiais didáticos, fica implícito que deverá abdicar do seu próprio DNA pedagógico. Os professores passarão a seguir um método predefinido pelo sistema de ensino. E o produto educacional ofertado pela instituição passa ser um subproduto do mesmo. É preciso, portanto, confiar muito nessa empresa, pois a sua escola estará terceirizando grande parte de sua estrutura pedagógica. O seu futuro não estará mais nas suas próprias mãos.

Mas, afinal? Vale a pena produzir os próprios materiais didáticos?

Na minha concepção, o melhor caminho para as escolas está na livre escolha de materiais didáticos, via curadoria, de acordo com a sua proposta pedagógica, sem a terceirização total dos serviços. Priorizando a aquisição de livros de autores reconhecidos pela excelência em suas áreas de atuação e com publicações continuamente revisadas.

Assim, a escola poderá manter a sua essência pedagógica e ser independente, oferecendo serviços educacionais chancelados por um projeto pedagógico próprio e único. As escolas que optam por esse caminho apresentam um maior valor educacional agregado. E isso também se reflete na questão mercadológica.

Entre as instituições de ensino superior, a compra de materiais didáticos e de conteúdos digitais não é tão disseminada quanto no ensino infantil. Talvez, a grande variedade de cursos dificulte a entrada das empresas de sistemas de ensino no setor. Contudo, já existem muitas empresas ofertando conteúdo digital para plataformas EAD. E, de uma forma geral, a qualidade pedagógica desses materiais também ainda não alcançou a excelência esperada.

Provavelmente, este seja um dos maiores problemas do EAD no Brasil. E, por isso, atualmente, eu não recomendaria a aquisição de materiais didáticos sem o apoio de uma curadoria experiente.

E agora? O que fazer?

Aqui vão algumas dicas para a sua instituição de ensino:

  • Evite a aquisição de pacotes fechados adquiridos em sistemas de ensino. Isso impossibilita a criação de uma proposta pedagógica própria e original, tornando a sua instituição uma mera repetidora de métodos e conteúdos que, em muitos casos, nada tem a ver com o propósito educacional de sua instituição de ensino;
  • Estruture o setor pedagógico de sua instituição, qualifique os professores e incentive a produção de conteúdo internamente;
  • Forneça tecnologias educacionais capazes de aumentar a eficiência pedagógica da sua instituição;
  • A avaliação de estudante é a melhor fonte de dados para avaliar os materiais didáticos utilizados por sua instituição. Portanto, estruture avaliação com o intuito de gerar esses indicadores;
  • A aquisição de qualquer material didático deve ser feita por meio de uma curadoria;
  • Utilize os materiais didáticos de domínio público disponíveis na internet. Há muito conteúdo gratuito e de altíssima qualidade disponível;
  • Estruture os documentos pedagógicos de sua instituição (matriz curricular, planos de ensino, planos de aula, etc.); e
  • Transforme a avaliação de estudante em uma grande ferramenta de pesquisa e controle de qualidade do ensino e dos materiais didáticos.

Com essas dicas, fica muito mais fácil pensar se vale a pena produzir os próprios materiais didáticos, ou como escolher um bom sistema de ensino para sua instituição. A Qstione pode te ajudar muito na melhoria dos processos pedagógicos. Entre em contato com a nossa equipe para obter mais informações.

Até o próximo artigo!

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